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Curitiba, PR, Brazil
Uma partícula do universo, que vive e interfere nele... Nasci em Curitiba, sempre vivi aqui... minhas raizes, minhas obras, meus acertos e desacertos...

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DESAFIOS NO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS NAS BIBLIOTECAS


APRESENTAÇÃO

“Cada município brasileiro deverá ter uma biblioteca”. “Todas as escolas públicas deverão ter uma biblioteca.”
A Lei n.º 1.244/2010, de 25 de maio de 2010, regulamenta a criação de bibliotecas em todos os municípios brasileiros. Editais que liberam verba para a implantação dessas bibliotecas, corrida por locais para instalação, “caça” aos bibliotecários para a organização e aos agentes para o prosseguimento no atendimento.
E a biblioteca passa a existir!
E as ações dessa biblioteca? Estão focadas em quem?
Na escola, devem estar atreladas aos objetivos e metas estabelecidos pelo projeto pedagógico, mas ao mesmo tempo devem adequar-se ao perfil dos alunos e da comunidade que atende.
E qual o perfil do usuário de uma biblioteca?
Para conhecer o usuário potencial de sua unidade, cabe ao profissional a busca pela identificação da comunidade que atende.
Considera-se usuário de uma biblioteca qualquer cidadão que vem em busca de resposta para um problema informacional, o cidadão que vem em busca do acesso à rede mundial de computadores e aqueles que vêm em busca de leitura de literatura.
E aqueles que não vêm à biblioteca por nenhuma das razões expostas?
A biblioteca está pronta para atrair esse usuário potencial?
Essas questões expõem a realidade do nosso trabalho em bibliotecas e quão difícil ainda é potencializá-lo e dinamizar o atendimento.
Algumas perguntas que se impõem:

• Qual é a nossa preocupação enquanto profissionais com aquele cidadão que não frequenta uma biblioteca?

• Preocupamo-nos em conhecer a comunidade no entorno de nossas bases operacionais?

• Que esforços são demandados no desenvolvimento de potencialidades dos usuários?

• Quantas vezes se frustram as expectativas de usuários no atendimento, devido à baixa qualidade dos serviços ou do acervo?

• Causamos algum problema específico, pessoal, na interação profissional/usuário?

• Nossas bibliotecas têm ambiente físico adequado a todas as pessoas?

• Nossa biblioteca mantém uma comunicação visual eficiente?

Conhecer os usuários é condição essencial para que as ações desenvolvidas no âmbito das bibliotecas tenham sucesso. E conhecendo nossos usuários podemos pensar, ou melhor, repensar nossa práxis e no desenvolvimento de projetos nos ambientes de biblioteca. Essa reflexão, enquanto profissionais, é importante para situar-nos no contexto das ações culturais.
Porém, há outras questões que afligem e preocupam. As bibliotecas inseridas em instituições de ensino refletem os conflitos internos dessas unidades.
Muitas são as situações que impedem o desenvolvimento de projetos em bibliotecas, independente de destinação ou público-alvo.
Em muitas escolas públicas brasileiras, a biblioteca é um depósito de livros desatualizados, livros didáticos preenchendo espaços vazios em prateleiras, materiais mofados numa sala úmida e escura. Pior, há escolas que usam a biblioteca como local de castigo e punição.
Em algumas escolas particulares, um simples armário com livros, fechado à chave, é tido como biblioteca.
Como diz o professor Edmir Perrotti (2010), a biblioteca escolar é um dispositivo desconhecido no Brasil.
Como acontece com a maioria das atividades desenvolvidas no âmbito escolar, o trabalho desenvolvido pelo bibliotecário na organização e implantação de uma biblioteca não merece figurar no horário nobre das emissoras de TV, nem tampouco vira manchete em jornais.
As questões internas são as mais expressivas porque envolvem desde as concepções culturais até a estrutura física.
Culturalmente ainda existem pessoas que administram instituições de ensino e não têm a biblioteca como elemento vivo dentro do seu contexto educativo, como parte integrante do seu projeto pedagógico. A biblioteca sequer faz parte do Regimento Escolar;
Há também equipes pedagógicas que não conhecem o funcionamento básico de uma biblioteca.
Em muitas escolas, há bibliotecas em que a cultura do silêncio impera, o atendimento deixa a desejar, o acesso ao acervo é cerceado parcialmente.
Em diferentes ambientes de biblioteca, há profissionais sem capacitação específica, técnica ou superior. Na prática, muitas vezes, o agente acaba realizando atividades com que já está acostumado, ou seja, é mais um animador cultural.
Há localidades em que funcionários que não se adaptam em outros setores das instituições públicas são remanejados para as bibliotecas e lá ficam.
Não há uma política de capacitação continuada para pessoas que atuam em bibliotecas como agentes de leitura.
Os espaços destinados às bibliotecas são insuficientes, mal iluminados, sem ventilação, úmidos, etc.
Os recursos destinados às bibliotecas são insuficientes para atender a todas as necessidades.
Refletindo no que foi exposto, pergunta-se:
1. HÁ UM PLANEJAMENTO PARA A SUA BIBLIOTECA PARA ESTE ANO?

2. OS PROJETOS FAZEM PARTE DE SUA ROTINA OU DE SUA AGENDA? POR QUE NÃO?
Para o desenvolvimento de projetos em bibliotecas de instituições de ensino, tem que haver capacitação continuada de profissionais que atuam nesses espaços, que deve ser tanto uma iniciativa pessoal quanto investimento da mantenedora. Um bom profissional que atende em uma biblioteca precisa:

* Ser um apaixonado por literatura. O conhecimento de autores e obras é um dos aspectos importantíssimo nas rotinas diárias;

* Ser um mediador entre o livro e o leitor;

* Ter desenvoltura para interpretar personagens numa contação de história, na interpretação de um texto;

* Prestar um bom atendimento ao usuário;

* Providenciar um esquema de comunicação eficiente que auxilie e facilite ao usuário a movimentação dentro do espaço da biblioteca;

* Desenvolver projetos para a formação do leitor, para a conquista de novos leitores.

POR QUE DESENVOLVER PROJETOS EM BIBLIOTECAS

Ao fazer sua opção para atuar como agente cultural, o profissional da biblioteca inicia um processo de ação cultural emancipadora, para propiciar a emergência das manifestações culturais do público leitor. Para atingir esse objetivo, deve se engajar politicamente em projetos mais amplos da sociedade, a fim de se obter a necessária integração com as diversas comunidades com as quais se está envolvido, de modo a dialogar e trocar experiências.
O desenvolvimento de projetos em bibliotecas escolares:

• Dinamiza o ambiente;

• Possibilita o desenvolvimento de capacidades e aptidões;

• Incentiva a construção de novos conhecimentos;

• Pode atrair novos usuários para utilização da biblioteca;

• Torna-se uma fonte inesgotável de possibilidades em pesquisa, valorização da arte e promoção humana;

• Propicia o desenvolvimento da capacidade dos indivíduos para o exercício de uma cidadania plena;

• Implica na ampliação da compreensão de diferentes linguagens e dos discursos em que se articulam as diferentes experiências do sujeito em seu meio social na sua época histórica e as formas de representação de sua vida psíquica.

Como gestora de uma Rede de bibliotecas escolares, vivenciei muito do que relatei até aqui. Mas a realidade da Rede de Bibliotecas Escolares de Curitiba é outra. Um pouquinho da história...
A Secretaria Municipal da Educação de Curitiba inaugurou o primeiro Farol do Saber em 1994. Até 1996 foram inaugurados 45 Faróis.
Em 2005, por iniciativa de nossa secretária municipal da educação elaboramos o projeto da Rede. Desde o início de 2006, desenvolvemos a organização e implantação de bibliotecas em escolas que tinham espaço para tal. Hoje, compõe a Rede 173 bibliotecas, todas dentro dos padrões biblioteconômicos, espaços claros, alegres e com mobiliário adequado. O mais importante, no entanto, é a maneira como são desenvolvidas as atividades nestes espaços.
A capacitação continuada tem possibilitado aumentar o numero de agentes que se dedicam integralmente aos serviços e projetos nestas bibliotecas. As dificuldades são colocadas em discussão e em conjunto se procura soluções e alternativas.
O desenvolvimento de projetos tem demonstrado sua eficácia nas salas de aula, na convivência entre os alunos, em depoimentos de pais que percebem a desenvoltura no falar, na leitura, na argumentação de seus filhos. A melhor constatação acontece nos Índices de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB que coloca as escolas de Curitiba entre as melhores do Brasil.
“Nem tudo são flores”, há um caminho a se percorrer até atingir o grau de ações culturais efetivas nos ambientes de biblioteca, que promova a autonomia tão almejada... mas chegaremos lá!
Dessa experiência relatada, trago algumas sugestões que possam ilustrar e auxiliar o trabalho em suas bibliotecas.

SUGESTÕES DE PROJETOS EM DIFERENTES TIPOS DE BIBLIOTECAS

Universitária:
• Conhecer a comunidade e entorno
• Palestras com mestres e doutores de diferentes áreas do conhecimento para usuários cativos e usuários eventuais
• Projetos sociais
• Projetos culturais
• Grupos de discussão e mesa-redonda sobre literatura
• Grupo de teatro, de dança, de música e de artesãos
• Exposições
• Competições culturais

Escolar:
• Conhecer a comunidade e entorno
• Projeto de disseminação seletiva da informação
• Palestras com profissionais de áreas do conhecimento de interesse da comunidade
• Encontros com escritores, artistas, compositores, artesãos para estreitar o convívio entre leitor/autor, apreciador/artista
• Projetos sociais
• Projetos culturais: hora do conto, teatro, concursos culturais, música, artes plásticas, pesquisas
• Grupos de discussão e mesa-redonda
• Grupo de teatro, de dança, de música, de artesãos
• Exposições
• Leitura em família
• Competições culturais

Especializada:
• Palestras com mestres e doutores de áreas afins à especialidade e também de diferentes áreas do conhecimento
• Projetos sociais
• Projetos culturais
• Grupos de discussão e mesa-redonda
• Grupo de teatro, de dança, de música, de artesãos
• Exposições
• Competições culturais

O COMPROMETIMENTO DOS PROFISSIONAIS NA QUEBRA DE PARADIGMAS DAS BIBLIOTECAS

UMA NOVA BIBLIOTECA...

Um desafio?
Uma nova realidade?
Perspectivas?
Como conceber uma nova biblioteca?

Segundo Victor Flusser, citado pela bibliotecária Nanci Gonçalves da Nóbrega, em uma palestra, “a nova biblioteca deve ser concebida como fruto da emergência cultural de uma população dada, expressão dinâmica de sua situação socioeconômica. “Essa fala de Flusser aconteceu em 1982. O que mudou nesse período, na concepção de biblioteca e na formação de bibliotecários?
Ainda parafraseando Nanci Nóbrega: o trabalho de ação cultural bibliotecária deve tomar como ponto de partida a realidade e as vivências individuais e coletivas dos sujeitos envolvidos no processo, buscando uma estreita ligação com o meio ambiente imediato onde se desenvolvem as ações.
Então, como tornar a biblioteca um espaço de diálogo?
Somente tendo um novo bibliotecário que atuará como agente catalisador da ação cultural, do diálogo entre leitores e os livros.
Com a mudança de abordagem o giro deve ser: 80° em função dos sistemas e 90° em função do usuário
Na concepção dessa nova biblioteca, os paradigmas mais importantes que temos a enfrentar:
1. Os quatro pilares da UNESCO – aprender a ser, aprender a aprender, aprender a fazer e aprender a conviver.
2. Paradigma mecanicista, ou seja, da fragmentação. Percebamos que hoje temos os sujeitos, as redes, as teias, o coletivo, a comunhão.
O desafio a que nos impomos é sair da reprodução para a criação; a interpretação do conhecimento e não apenas a sua aceitação;
Nesta perspectiva temos que redefinir objetivos e funções:
• Ousar tornar-se um espaço aberto, de diálogo, de convivência, um verdadeiro ponto de convergência;
• subverter antigos espaços, tornando-se espaço de criação, no sentido de pertencimento, de sua territorialidade;
• ser a força motriz capaz de propiciar as manifestações culturais em todas as suas formas de expressão;
• explorar o potencial de criatividade e imaginação e expressar livremente sua cultura;
• extrapolar e expandir o espaço físico das bibliotecas, transferindo-o, eventualmente, para outros locais: praças, centros comunitários, ruas da cidade, pontos de convergência para reunir a comunidade em geral (NÓBREGA, 2010).


“Se o leitor, o leitor de livros; aquele que gosta de ler, não se limitar à quilo que se faz agora, se ele andar pra traz e começar do principio, e poder ler os primitivos e os grandes cronistas e depois os grandes poetas, a língua passa a ser algo mais que um mero instrumento de comunicação, transformando-se numa mina inesgotável de beleza e valor.

José Saramago

VOCÊ PODE LER, SIM !!!!!!!!!!!!

Nem todos têm poder aquisitivo para comprar livros, mas podem lê-los em vários lugares: bibliotecas, salas de leituras, estações de metrô, terminais de ônibus, bancos de praças. Os livros estão ao seu alcance! Estenda a mão!